- A referência documental mais antiga à igreja de Santa Eulália de Paços remonta à segunda metade do século décimo (959). Encontra-se no Livro de Mumadona, Condessa de Guimarães.
É de presumir, no entanto, que existisse muito antes desta data. Eis os indícios.
Por um lado, a região onde se encontra, de povoamento pré-histórico (Citânia de Sanfins), foi intensamente romanizada, como atestam os numerosos achados arqueológicos (os castros e os castelos), mas sobretudo a toponímia (existem, em muitas freguesias, os lugares de Vila, Vilar, Vila Nova, Fundo de Vila, Cimo de Vila, Agro e Agras, Quintã, Quintãs, Quintela, Paço).
Na área da freguesia de Paços foram encontrados vestígios romanos, no lugar das Quintãs, junto da nova estrada que sobe para Modelos, a meio da encosta. Aí se descobriram os alicerces de uma ampla construção rectangular e restos abundantes de tégulas. Além disso, ao ser construída a Casa do Rego (novo), foram achadas várias ânforas de sepultura, em bom estado de conservação, atribuídas ao século IV. E ainda hoje alguns campos vizinhos são chamados dos Castelos e os Cemitérios.
A Casa da Torre (palacete com a data de 1733) não tiraria o nome daquela construção rectangular?
Assinale-se ainda o lugar de Vilar, a caminho de Sobrão e a vizinhança da ponte medieval de Arreigada sobre o rio Ferreira.
Por outro lado, toda a província de Entre Douro e Minho e, mais amplamente, toda Galécia foi cristianizada a partir do século IV.
Com efeito, a criação da diocese de Braga remonta, com muita probabilidade, aos meatos do século 11I, embora o primeiro Bispo historicamente comprovado, fosse Paterno, dos fins do século IV. E a área da sua jurisdição estendia-se, para sul, até ao Douro.
No Concilio de Lugo, atribuído ao ano de 569, desmembraram-se de Braga as dioceses de Tui e do Porto. Esta teve a sua primeira sede em Magneto, que segundo a tradição, se identifica com Meinedo, do vizinho concelho de Lousada.
Ai, na mesma terra do vale do Sousa, foram referenciados alguns vestígios visigóticos. Como também se encontram na toponímia do termo de Ferreira.
A favor da ancianidade da Igreja temos ainda o orago – Santa Eulália, mártir hispânica da cidade de Mérida, no século IV. Nos documentos asturianos, entre os anos de 718 e 910, citam-se uns quinze santuários com o mesmo nome. Anteriormente a 1.100 os documentos portugueses mencionam mais de trinta igrejas com o nome de S. Eulália.
E também a corruptela do seu nome latino, desde os tempos medievais, atestada nas Inquirições de 1258: «Sane te Ovaye de Palaeiís»; repetida em 1358, no Catálogo das Igrejas de Portugal: igreja de Santa Olaia de Paços, no Bispado do Porto, terra de Aguiar; persistindo ainda no século XVII, como se pode ver no «Livro dos Irmãos Confrades da Confraria de Santo Amaro», sita na freguesia de Santa Eulália de Paços, do ano de 1677: duas vezes aí é mencionado o lugar de «Saneta Uvaia» ou «Ouvaia» (fls. 5 e 76 v.), chamado depois de Santa Eulália e da Igreja (sobreposição infeliz de via erudita).
Podemos, pois, concluir que alguns séculos antes da fundação da nacionalidade, e, pelo menos, desde o tempo da reconquista cristã, existia, a meio da encosta que vai da confluência dos ribeiros de Figueiró, de Carvalhosa e de Ferreira (ou de Sobrão, da Ponte Nova e das Quintãs) até ao monte de S. Domingos (onde há vestigios de um castro); uma pequena ermida, cuja configuração podemos imaginar através da Igreja Meixomil e de Eiriz , sem os acrescentos seiscentistas e setecentistas.
Ter-se-á encontrado algum resto dessa construção primitiva, no contraforte do arco cruzeiro, do lado sul, ao alargar, há dois anos, a Capela-Mor?
A traça da Igreja actual – nave e sacristia velha – é, tudo indica, do século XVII. Pelo menos, a este século são atribuídos os azulejos do lambrim e o pequeno órgão de tubos, recentemente e em boa hora, restaurado.
A Capela-Mor, com abóbada em tijolo, é posterior, certamente, do século XVIII, bem como a sacristia nova. Os altares laterais há pouco retirados, eram de finais do século XIX.
A imagem de Santo Amaro no seu altar, e a de Santa Eulália, em granito e no exterior da Igreja, parece serem, respectivamente, do século XVII e XVIII.
A fachada e a torre, iniciadas em 1910, foram terminadas em 1913.
O relógio foi colocado em 1913. O sino grande tem a data de 1814 e os dois sinos menores, de 1915, sendo os três fundidos em Braga, na mesma firma.
- A data da criação da paróquia é mais incerta.
A quando do Concilio I de Braga (561) já havia igrejas paroquiais. E no Concilio 11 (572), a seu respeito, foram tomadas algumas medidas de ordem administrativa.
A diocese de Braga, que então se estendia até ao Douro e até Bragança, contava apenas 30 paróquias, em geral, abrangendo vastos territórios, que correspondiam, na maioria dos casos, a antigas circunscrições romanas (pagi, agri, fundi, cast~lIa e vici) ou mesmo pré-romanas e que haviam de ser a base dos arcediagados e terras do século XI e seguintes.
A par das igrejas paroquiais, existiam, mais antigos e mais numerosos, os templos particulares, erguidos em honra dos santos.
Muitos destes terão sido convertidos em sede de novas paróquias.
Esta transformação, interrompida parcialmente com a invasão muçulmana, uma vez que parte da população se refugiou no Norte, foi retomada com a reconquista cristã e até se acelerou.
A Igreja de «Sancte Ovaye de Pa/aciis» é mencionada nas Inquirições de 1258 e, no Catálogo das Igrejas de Portugal, «Sancta Olaia de Paços» pertence à terra de Aguiar de Sousa.
Nesta época, a independência da freguesia de Paços em relação ao Couto de Ferreira era total. Nas Inquirições de 1258 se diz que a Igreja «é do Senhor rei» e «que os 32 casais ali existentes eram do rei».
Enquanto não passou a abadia independente (do titulo do pároco), era um simples curato, anexo à abadia de Vandoma e da apresentação do abade.
Posteriormente foi a freguesia honra dos Bispos do Porto.
Segundo a Corografia Portuguesa, em 1706, tem 115 vizinhos:
Em 1758, segundo as Memórias Paroquiais do Padre Luis Cardoso, a freguesia de Santa Eulália de Paços, da comarca (divisão-eclesiástica) de Penafiel e do concelho de Aguiar de Sousa, era da Coroa Real, mas, dez anos antes, passaram as rendas ao Senhor Infante D. Pedro. Tinha 145 vizinhos ou fogos, com a população de 393 pessoas.
Finalmente, em 1923, tinha 255 fogos e 1300 almas. Era Pároco o Padre António Ferreira Pombo e sobre a organização e movimento paroquial.
- Dada a importância que assumiu na paróquia, pelo menos desde o século XVII, a Confraria de Santo Amaro merece algumas referências à parte.
Em 1642 «na Parochial Igreja ou Capella de Santo Amaro, da freguesia de Santa Eulália de Paços, do bispado do Porto» estava canonicamente instituída «uma pia e devota Confraria de fiéis cristãos, homens e mulheres»… «cujos confrades (…) costumarão fazer muitas obras de piedade, caridade e misericórdia». Consta da Bula do Papa Urbano VIII, em que concede perpetuamente à dita Confraria, para que tenha maiores bens espirituais, numerosas graças e indulgências.
Texto retirado do livro publicado em 1986 por Cónego Dr. Ângelo Alves